A língua portuguesa é complicada. Ninguém nega isso. Composta acima de tudo por excessões, e muitos sinônimos, homonimos, parônimos, antônimos e outros ônimos que nos fogem a comprensão. Eventualmente a gente acha uma palavra que em todos os sentidos, se encaixa. É raro. Mas acontece. É daqueles momentos em que se pode comer a manga da camisa...
O trabalho é cansativo. É chato. É maçante. Não conheço ninguém que se pudesse, abriria mão de trabalharia só por diletantismo, quando quer, na hora que quer e como quer. Por mais workaholic que se seja e por mais que se goste do que se faz, a idéia de levar a sério o hoje não estou a fim é pra lá de tentadora. Mas a gente tem que trabalhar: Ces't lá vi...
Então o problema não é o trabalho. Trabalho é da ordem do que não tem remédio, das coisas que a gente aceita como parte do pacote da vida, algo que exceto se parte da excessão das excessões, não há como fugir. Pelo contrário, a gente briga por ele, porque se ruim com ele, muito pior sem ele...
O problema é o que vem com o cargo. O encargo. As coisas que não fazem parte da sua atribuição mas vem de brinde, mesmo quando você dispensa. O problema é esse extra. E quase 100% das vezes, não vale a paga. Mas não vale mesmo.
Sinceramente? Eu estou ficando cada vez mais impaciente. Mas é uma impaciência boa. Óbvio que incomoda essa sensação de que de repente o mundo inteiro ficou patético. Essa completa falta de complacência com a estupidez alheia, as vezes mascarada em excesso de inocência, vez por outra me coloca em situações meio desagradaveis, onde me sinto, mais que o normal, completamente fora d'água. Mas é o mesmo sentimento que me faz levar minha vida em outro nível, sob novos parâmetros, onde eu pego o que é bom e ignoro solenemente o que é ruim. "/ignore di com força!" E quando eu tento (e até tento) passar essa filosofia adiante, ouço sempre um "você não entende!". Não entendo o que? Não entendo que se está fazendo mal é porque a gente deixou que fizesse? Que se a pressão externa está forte o jeito é igualar a pressão interna? Que a gente já tem problema demais para caçar novos? Que o outro é só o outro?
Foi mal. Eu entendo. Eu tenho mais do que o desejado de fios brancos para provar que entendo e entendo com a propriedade de quem já esteve lá, de quem se estressou a toa, de quem ouviu demais comentários alheios. De quem se preocupou demais com o que vão pensar.
Hoje eu me preocupo com meus filhos. Comigo mesma. Com meu marido. Com as minhas contas para pagar (e pouco... Se não pagar hoje, pago depois. Ou como dizia Caetano, ou não!). Com a minha casa. Com os meus cachoros. Com a minha família. E já é preocupação suficiente.
O outro é só o outro. Alguém para me entreter quando é divertido. Alguém preu ajudar quando isso for possível e eu me sentir a fim. E alguém preu ignorar quando não me fizer bem. Porque o inferno, definitivamente são os outros.
E a título de filosofia de botequim, releiam O Pequeno Príncipe. Rosas são para a gente admirar, se enebriar com o perfume, e relevar todo o resto. Porque rosas são pentelhas. E se você vai ficar dando ouvido a chororôs, queixumes e exigências das rosas da sua vida, meu amigo, pegue a primeira revoada de pássaros em migração e caçe seu rumo. Porque a vida é muito infeliz para quem não entende essa premissa básica das relações humanas.
Eu de minha parte, e já tem algum tempo, no que se refere aos outros, só o cargo. Dos encargos, estou fora.