Sobre http://perfilhando.blogspot.com/ :
Segundo o Aurélio (o Buarque, não o do 1,99...), Perfilhar (verbo, 1a conjugação) tem como 2a definição defender teoria ou princípio. Por sua origem etmológica (e seu sentido literal ou 1a definição), per- + filho + -ar, significa adotar algo (a teoria) ou alguém como filho.
Em dito isso, explicado está o curioso endereço deste blog, http://perfilhando.blogspot.com/, porque perfilhar é algo que faço o tempo todo, todo o tempo. (Na verdade, todos os outros endereços possíveis já estavam tomados, mas isso é detalhe e um detalhe não tão interessante quanto inventar um nome e uma razão por trás).
Já fiz muito mais. E isso nos leva a outro assunto. Já fiz muito mais quando bloggava regularmente. Mas cansei de blog. A bem da verdade, cansei de internet. Alias, cansei de gente também. São coisas que dão muito trabalho e pouca compensação. A ordem dos cansaços está alterada. Cansei de gente primeiro, e ai a internet era tudo de bom: Gente a distância. Mas cansei dela também. Gente a distância também é gente. E por estar atrás do teclado, tem o dom de ser ainda mais gente.
Eu tenho essa teoria de quando a gente acorda se sentindo muito gente, devia avisar no trabalho que se está muito doente e se enfiar debaixo das cobertas. O dia todo. Mas não... o povo acorda se sentindo gente e saí por ai exibindo sua gentisse. Imperdoável... mas voltemos ao assunto.
Acho que cansei de blogar porque cansei de perfilhar. Verdade é que nem bunda. Todo mundo tem a sua. E já que perdi a fé na condição de ser gente, não vou convencer ninguém, não vou ser convencida por ninguém, e seja com boas ou com más intenções, não vou impedir ninguém de continuar sendo gente e ostentando sua gentisse... Então, vou defender o que? Quem quiser saber o que penso, que pergunte.
Sobre Bem Faço Eu:
Tornando curta a longa história, eu falo demais. E o pior, as vezes falo o que estou só pensando. Dia desses eu soltei um desses pensamentos que teria sido melhor ter ficado só pra mim. Não é que eu não fale mal da vida alheia. Existe um nível de fofoca que é inócua, quase pueril. E dizer que vc nunca fez uma fofoquinha que seja e contou algo que não lhe diz respeito, e pior fez um juizo de valor a respeito, é quase tão inacreditável como tentar me convencer que nunca contou uma mentira na vida. Nem uma mentirinha branca (eita preconceito!) do tipo perguntar pruma criança o que ela quer ganhar do Papai Noel. Todo mundo mente e todo mundo faz fofoca. Mas o que me incomoda é essa tendência mito-natural que quando as pessoas se reunem, de todos os assuntos possíveis, sempre acontece de se escolher falar da vida alheia, de alguém que não está lá, cuja vida em muito pouco nos acrescenta e cujos atos definitivamente não nos atinge.
Quando soltei meu pensamento ácido, não era dirigido a ninguém. Juro. Não era uma alfinetada a quem começou o assunto pouco produtivo de discutir a vida do fulano de tal. Era quase uma epifania de me descobrir alguém que exceto quando puxam o assunto da vida alheia, eu costumo falar de mim, e não dos outros... E mesmo o que é público e notório, quase nunca eu tomo conhecimento. E ai pensei e falei. Na hora rolou aquele silêncio constrangedor com uma estratégica mudança de assunto (obrigada, Celinha!). Depois rendeu boas risadas. E talvez renda uma camisa. Porque bem faço eu. E isso tem haver com as razões desse blog.
Sobre esse blog:
Já bloguei por inúmera razões. Foi por um tempo um exercício de auto conhecimento. Posts cripticos, quase filosóficos, me ajudaram a me ver por outro prisma: o meu mesmo. Nossa consciência de nós mesmos é limitada. É preciso o reflexo no espelho, a palavra falada ou escrita, a consciência de nossa impressão no mundo para que de fato saibamos quem somos. É diferente saber o que penso e ler o que penso. Acredite. É muito diferente mesmo. É o princípio da analise. O sujeito que ouve tem muito menos importância que aquele que fala e a análise funciona porque você se ouve.
No processo conheci muita gente. E bloguei para ler e ser lida. A confortante sensação de fazer parte de uma incomensurável rede de confluências.
Depois bloguei para manter contato. A cerca de 350 quilômetros mínimos de qualquer amigo que eu tinha até então, bloggar era a impressão (ou esperança) de que alguém que me importava estava me ouvindo. Eu compartilhava o que me importava com quem me importava.
Entre uma e outra, bloguei por hábito, por diletantismo, por arrogância. E eventualmente bloguei por bloggar. Seja qual fosse o motivo, encheu meu saco. Prefiro sair para caminhar, ou ver TV, ou tricotar, ou dormir, ou ler um livro, ou quase qualquer coisa que pouco tenha haver com a internet. Ficar sentada na frente do computador começou a me parecer uma incomensurável perda de tempo.
Paralelo a isso, cansei de perfilhar. Cansei de defender o que eu penso. Cansei de inclusive propagar o que penso. Vai ter sempre um para desvirtuar, para entender errado, para encher meu saco. Cheguei no extremo da crença que comunicação é ruído e me conformei a ter a minha agradável compania no tocante a compartilhar pensamentos. Se eu eventualmente não me entendo, que dirá o outro.
Mas de vez em quando eu tenho recaídas. Eu me sinto atacada por uma verborragia tão profunda que se eu não falar (ou escrever) eu surto. As vezes preciso me ouvir. Mesmo totalmente ciente que não vou convencer ninguém a respeito do que quer que seja, e que ninguém está DE FATO interessado em me ouvir, preciso falar. Hoje me senti verborrágica.
Eu tinha feito um novo blog dia desses. O velho Síntese ou Nowhere nos imortais tinha pifado, e depois, quando voltou, eu não me lembrava mais sequer a senha... Podia ter incomodado o pobre do .G Norte (saudade, por sinal...) , corrido atrás da senha, sei lá... achei mais fácil criar um blog aqui. Mas andei colocando coisas de tricô nele, e mesmo não dando prosseguimento, achei que não comportava verborragias. E por isso criei um novo.
E gastei tantas palavras nas razões e nos porques que agora fiquei com poucas. Talvez ainda bloggue hoje sobre o que me causou a verborragia. Talvez não, e bloggue em breve sobre outras coisas. Ou não também. Mas vou saber que o espaço está aqui. A disposição para quando eu quiser. Mas como já dizia Caetano, ou não.